III. ANALISAR SCIENTOLOGY

Nesta secção, vai ser feita uma análise de Scientology em relação às dimensões acima mencionadas. Por conveniência na exposição, a ordem pela qual as dimensões são consideradas não é exatamente a mesma que foi adotada acima.

III.I. A Dimensão Doutrinal e Filosófica

O Manual de Scientology (página i) diz:

«Os princípios essenciais de Scientology são estes: Vocês são um ser espiritual imortal. A sua experiência estende-se muito além de uma única vida. E as vossas capacidades são ilimitadas, mesmo que presentemente não estejam conscientes delas.»

Com estas palavras, Scientology postula a existência de uma entidade que tem semelhança significativa com aquilo a que em várias outras religiões se dá o nome de alma ou espírito.

Com estas palavras, Scientology postula a existência de uma entidade que tem semelhança significativa com aquilo a que em várias outras religiões se dá o nome de alma ou espírito. Para evitar confusões com conceções anteriores da alma, Scientology aplica a esta entidade o termo thetan, da letra grega theta (θ), o símbolo para pensamento ou vida. O thetan não é uma coisa, nem é a mente. É o criador de coisas. É a própria pessoa: a identidade persistente que é o indivíduo. Diz-se que o thetan é imortal e capaz de realizar qualquer coisa, incluindo a criação de massa, energia, espaço e tempo (O Manual de Scientology, p. lxxxv; Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p. 86).

De acordo com as doutrinas de Scientology:

A residência normal do thetan é no crânio ou perto do corpo. Um thetan pode estar numa de quatro condições:

1. A primeira seria estar inteiramente separado de um corpo ou corpos, ou até mesmo deste universo.

2. A segunda seria estar próximo de um corpo e a controlar conscientemente o corpo.

3. A terceira seria estar dentro do corpo (o crânio).

4. E a quarta seria uma condição invertida, em que ele estaria compulsivamente afastado do corpo e sem poder aproximar-se deste.

Existem graus (subdivisões) de cada um destes quatro estados. Destas quatro, a condição óptima, do ponto de vista do Homem, é a segunda. (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, pp. 66–67)

Scientology afirma que um thetan está sujeito a deterioração mas que ele pode, a qualquer momento, recuperar a plenitude da sua capacidade. Um dos objetivos de «processamento» ou «audição» em Scientology é colocar o indivíduo na segunda condição descrita acima, uma condição em que, de acordo com Scientology, ele está mais feliz e mais capaz do que estaria de outra forma (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p.67). Diremos mais acerca disto numa secção posterior. Por agora é suficiente notar que um elemento fundamental das doutrinas de Scientology é que o homem consiste em três partes: o corpo — a substância física organizada, mente — constituída essencialmente por imagens, e o thetan — a alma ou o espírito que anima o corpo e usa a mente como sistema de comunicação e controlo entre si e o universo físico. O thetan é a mais importante destas três partes: «Pois sem o thetan não haveria nem mente nem animação no corpo. Enquanto que, sem um corpo ou uma mente, ainda existe animação e vida no thetan. (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p. 74; ver também Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, pp. 65-74, e O Manual de Scientology, p. lxxv)

Scientology também identifica oito dinâmicas: impulsos para a existência ou sobrevivência. Embora haja variações relativamente pequenas na forma como elas têm sido descritas ou identificadas na literatura de Scientology (ver Scientology 0-8: O Livro dos Fundamentos, pp.83–96; Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, pp.38-39; O que É Scientology?, pp.153–155; O Manual de Scientology, pp. 51-67), estas dinâmicas, resumidamente, são:

1. O impulso para a existência como a própria pessoa.

2. O impulso para a existência como geração futura.

3. O impulso para a existência como um grupo tal como uma escola, uma cidade ou uma nação.

4. O impulso para a existência da humanidade como uma espécie.

5. O impulso para a existência para toda e qualquer forma de vida.

6. O impulso para a existência como o universo físico composto de matéria, energia, espaço e tempo.

7. O impulso para a existência como espíritos ou de espíritos.

8. O impulso para a existência como infinito ou o Ser Supremo.

Em Dianetics, L. Ron Hubbard identificou as primeiras quatro destas dinâmicas. Em Scientology, adicionou as outras quatro. Dado o que já foi dito sobre o seu conceito do espírito (thetan), a assunção de Scientology das dinâmicas 7 e 8 é especificamente de carácter religioso. Hubbard declara que «infinito» na oitava dinâmica também é identificado como o Ser Supremo, e que esta dinâmica pode ser designada por «dinâmica de Deus» (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p.39). Ele nota que «Scientology abarca as dinâmicas de um a sete, como terreno conhecido, cientificamente demonstrado e classificado» e que, «quando a Sétima Dinâmica tiver sido alcançada integralmente, a pessoa descobrirá a verdadeira Oitava Dinâmica» (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p.39 e p.40).

O Credo da Igreja de Scientology refere Deus duas vezes. Depois de recitar vários direitos inalienáveis de todas as pessoas, o Credo declara que «nenhuma entidade menor do que Deus tem poder para suspender ou rejeitar estes direitos, aberta ou encobertamente.» Posteriormente o Credo afirma que as leis de Deus proíbem o homem de se envolver em certos tipos especificados de comportamento destrutivo para os seres humanos seus semelhantes. Nada mais é dito no Credo sobre as características de Deus.

Outra publicação oficial, Os Antecedentes e Cerimónias da Igreja de Scientology, começa com uma breve descrição de várias filosofias religiosas, apontando pontos em que Scientology é semelhante. Declara:

Em Scientology nós acreditamos que, à medida que ficamos mais conscientes espiritualmente, é inevitável que fiquemos mais conscientes de Deus, ou o Ser Supremo — o primeiro motor, imóvel.

Qualquer definição de Deus tem necessariamente de ser subjetiva, e nós não fazemos nenhuma tentativa para definir Deus como uma realidade para todas as pessoas. Só será possível, teoricamente, ter total consciência de Deus, em todas as manifestações, quando a pessoa estiver espiritualmente avançada. (Os Antecedentes e Cerimónias da Igreja de Scientology da Califórnia, Worldwide, 1970, p.22)

A noção de Deus como primeiro motor é repetida noutro ponto dessa publicação, quando se faz referência a «o Criador ou Ser Supremo» (p.10), «o autor do Universo» (p.27) e «a relação do homem com o seu Criador» (p.16).

Em resumo, então, embora afirme que Deus, o Ser Supremo, existe, Scientology não tem nenhum dogma quanto à forma em que Deus existe. No entanto, os Scientologists acreditam que através do processo de avanço espiritual disponível em Scientology todas as pessoas podem alcançar a oitava dinâmica, ou de Deus, e que então a verdadeira natureza de Deus será revelada a cada uma subjetivamente.

Assim, Scientology em alguns aspetos é semelhante a religiões como o budismo ou unitarianismo que são ponderadas em dar definições dogmáticas ou descrições de Deus. Scientology não envolve a adoração de Deus no sentido ocidental tradicional. Antes, como em muitas religiões orientais, os Scientologists procuram consciência ou esclarecimento espiritual pessoal. Como se tornará evidente na próxima secção, Scientology está mais próxima das maiores religiões do Oriente do que das do Ocidente também de outras maneiras.

III.II. A Dimensão Narrativa ou Mítica

Uma dimensão narrativa ou mítica é evidente nos escritos de L. Ron Hubbard sobre as origens do universo físico, composto de matéria, energia, espaço e tempo (mest). De acordo com Hubbard, «a vida é um jogo. Um jogo consiste em liberdade, barreiras e propósitos.» (Scientology: Os Fundamentos do Pensamento, p. 54); a fim de ter um jogo, os thetans criaram o mest, que lhes impôs algumas restrições. Os thetans então enredaram-se progressivamente no mest que eles tinham criado, perdendo a consciência das suas capacidades ilimitadas. O objetivo de Scientology é capacitar o thetan para redescobrir estas capacidades ilimitadas. Isto implica o apagamento do conteúdo daquilo que é designado por «mente reativa» — a parte da mente que regista o que está a acontecer quando a pessoa está total ou parcialmente inconsciente porém a sofrer um trauma físico ou emocional, como por exemplo após um acidente ou enquanto está anestesiada. As perceções de tudo o que foi dito ou feito perto da pessoa em tais ocasiões traumáticas são, de acordo com Scientology, gravadas na mente reativa como engramas.

Hubbard ensinou que os engramas podem ter-se acumulado não só na vida presente mas também em vidas passadas. Em Você já Viveu Antes Desta Vida? ele afirmou (p. 1) que «a existência de vidas passadas é provada em Scientology» e apresentou várias narrativas de pessoas que recontam acontecimentos de vidas passadas. Na introdução a Scientology: Uma História do Homem ele escreveu (p. 3): «Esta é uma descrição factual e a sangue-frio dos seus últimos 76 biliões de anos.» Ele também revelou (p. 4 e p. 5) que quando limitou a audição à vida atual de uma pessoa os resultados benéficos para pessoas que sofrem de doença mental e física foram lentos e medíocres, ao passo que quando auditou a «linha do tempo completa», incluindo vidas passadas, os resultados foram rápidos e espetaculares. Em Missão no Tempo (originalmente publicado sob o título de Teste de Memória da Linha do Tempo Completa) ele falou do tempo em que era um marinheiro em Cartago cerca de 200 a.C.. E além do mais, declarou (p. 69): «Eu sei com certeza onde eu estava e quem eu era nos últimos 80 biliões de anos.» Além disso ele afirmou ter descoberto a partir da audição da sua linha do tempo completa que tem havido tipos repetitivos de sociedade e, por exemplo, que:

Cerca de trinta e três biliões de biliões de anos atrás, houve uma sociedade que não era muito diferente da de cerca de 1920, mas que tinha o rococó do século XIX — o motivo tipo palmeira de interior, o chapéu de feltro (fedora), as mesmas roupas, os vários símbolos. O cavalheiro pândego usava camisa de listas largas. Muitíssimo tempo depois, existiu no mesmo local uma civilização árabe que não sabia nada de automóveis ou maquinaria mas que tinha montes de minaretes, turbantes, calças largas e cavalos. (Missão no Tempo, p. 74)

Relatos como os citados acima constituem a dimensão narrativa ou mítica de Scientology. A crença em vidas passadas tem algumas semelhanças com o ensino hindu e budista sobre a reencarnação, apesar de os Scientologists geralmente não usarem este termo para descrever as suas crenças. Uma recente obra de referência oficial sobre Scientology declara:

Hoje em dia em Scientology, muitas pessoas têm certeza de que já viveram vidas antes da sua vida atual. Estas são referidas como vidas passadas, não como reencarnação.

As vidas passadas não são um dogma em Scientology, mas geralmente os Scientologists, durante a sua audição, experimentam uma vida passada, e então, sabem por si próprios que viveram antes. (O que É Scientology? p. 643)

Desta maneira, é dado grande ênfase da dimensão narrativa ou mítica de Scientology às atividades e experiências do thetan em tempos passados, quer tenham a ver com a criação de matéria, energia, espaço e tempo, quer com acontecimentos significativos que se acredita terem afetado o thetan durante esta vida ou numa vida precedente. Um outro aspeto da dimensão narrativa é o relato em várias publicações de Scientology da história da vida de L. Ron Hubbard, a fonte de autoridade dos ensinamentos e práticas de Scientology.

III.III. A Dimensão Prática e Ritual

No âmago de Scientology estão certas práticas religiosas distintas, uma central que é designada por audição, ou processamento. Esta prática envolve uma relação individual entre um auditor designado oficialmente, (um ministro ou ministro em treino na Igreja de Scientology) e uma pessoa que procura os benefícios da audição. O objetivo do auditor é ajudar a outra pessoa (a que se chama preclear) a descobrir e apagar as gravações debilitantes (engramas) que ficaram de experiências passadas. Numa sessão de audição, que tipicamente dura até duas horas e meia, o auditor faz uma série estruturada de perguntas, acusando receção da resposta dada pelo preclear a cada pergunta antes de fazer a pergunta seguinte. Como parte deste processo, o auditor usa um eletropsicómetro (E-Metro) para ajudar a identificar as áreas de angústia espiritual ou dificuldade. Existem vários processos de audição, cada um deles concebido para ajudar os preclears a melhorar a sua capacidade para confrontar e lidar com parte da sua existência. Quando uma área específica da existência de uma pessoa já está tratada satisfatoriamente desta maneira, o processo de audição avança para outra área. O objetivo final, que exige muitas sessões de audição, é alcançar novos estádios de ser chamados Clear e Thetan Operante. Voltaremos a falar sobre isto em dimensão experiencial.

Embora a audição em Scientology tenha algumas semelhanças com práticas de confissão e aconselhamento pastoral em algumas outras religiões, ela também tem características e procedimentos distintos próprios, bem como interpretação própria do significado espiritual desses procedimentos. Os Scientologists afirmam que esse tipo de audição tem uma eficácia que não se encontra em mais nenhum lado. De acordo com uma publicação oficial:

Não existem quaisquer variáveis na tecnologia de audição, nenhuns resultados aleatórios de aplicações casuais. A audição não é um período de associação livre vaga. De facto, cada processo tem um design exato e aplicação exata e alcança um resultado definido quando ministrado corretamente.

A audição de Scientology pode tirar qualquer pessoa de uma condição de cegueira espiritual e levá-la para a alegria luminosa da existência espiritual. (O que É Scientology?, p. 164)

Outra prática fundamental de Scientology é chamada treino. Este envolve estudo sistemático e aplicação dos axiomas e princípios de Scientology enunciados por L. Ron Hubbard. Estão à disposição muitos destes programas de treino, desde cursos introdutórios que ensinam os fundamentos, até cursos mais longos que treinam auditores profissionais, e até cursos ainda mais avançados que tratam dos níveis mais elevados de consciência espiritual e proficiência.

Existem instalações para estes programas disponíveis em locais designados, onde indivíduos estudam materiais prescritos e os aplicam na prática, trabalhando ao seu próprio ritmo sob a orientação geral de supervisores de curso (ministros) treinados. Assim como os Scientologists consideram a audição essencial para a concretização dos estados de Clear e acima, o treino também é considerado essencial para manter e avançar para além do estado de Clear. Embora o conteúdo de um tal treino seja distintivo de Scientology, os propósitos que os Scientologists acreditam que tal treino serve são análogos àqueles que outras religiões afirmam ser servidos por vários exercícios espirituais e programas educacionais.

A dimensão prática e ritual de Scientology também contém outros elementos nalguns aspetos semelhantes aos que são encontrados noutras religiões. Num Serviço Dominical dentro da Igreja de Scientology, encontramos algo semelhante ao que se pode encontrar numa Igreja Unitária Universalista. O sermão foca tipicamente algum aspeto de Scientology, tal como um dos seus axiomas, algum aspeto dos seus códigos, ou uma das Oito Dinâmicas. Pode ser dito o Credo da Igreja de Scientology e a Oração para a Liberdade Total. Como outras denominações religiosas, a Igreja de Scientology também conduz ritos de passagem tais como batizados, casamentos e funerais. Devido à sua doutrina de vidas passadas, as cerimónias de batizado têm um significado especial em Scientology.

III.IV. A Dimensão Experiencial

Como já foi mencionado, o principal objetivo de Scientology é capacitar indivíduos para alcançar o estado de Clear. Isto envolve apagar todos os engramas eliminando assim a «mente reactiva». De acordo com Scientology, tornar-se Clear restaura e fortalece a individualidade e criatividade da pessoa, a sua bondade inerente e decência. Os relatos dados em O que É Scientology?, (pp. 364–365) por pessoas que alcançaram o estado de Clear são tão efusivos como os relatos dados pelos cristãos evangélicos da transformação das suas vidas como resultado de um encontro com Cristo. Os Scientologists afirmam que o estado de Clear não era possível antes do advento de Scientology:

A glória plena do estado de Clear não tem uma descrição comparável a quaisquer textos existentes na nossa cultura. O estado tinha sido procurado durante muito tempo mas era impossível de alcançar sem as pesquisas e descobertas de L. Ron Hubbard. Por mais capaz que um ser fosse, por mais poderes que ele tivesse, por mais forças que ele possuísse, a mente reativa ainda lá estava, oculta, e com o tempo deitava-o abaixo outra vez. O estado de Clear existe nos nossos dias e é alcançável por todos os homens. Muitos milhares de Scientologists de todo o mundo são Clears, e o seu número aumenta dia após dia. (O que É Scientology? p.245)

Ao afirmar que a salvação que oferece é única, Scientology é paradoxalmente semelhante às religiões abraâmicas — o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Scientology ensina também que depois de alcançar o estado de Clear é possível continuar até alturas ainda mais elevadas de liberdade espiritual, que são os vários níveis de Thetan Operante (OT). Thetan Operante é definido como um estado de ser acima de Clear, no qual o Clear «voltou a estar familiarizado com as suas capacidades nativas». Um Thetan Operante é «causa consciente e voluntária sobre a Vida, Pensamento, Matéria, Energia, Espaço e Tempo» (O que É Scientology?, p. 247 e p. 274). Neste contexto, operante significa «capaz de agir e lidar com as coisas» (Scientology 0-8, p. 424). Uma vez que tenha alcançado este estado completamente, o thetan é capaz de realizar qualquer coisa (O Manual de Scientology, p. lxxxv). Daí que se afirme que as capacidades que o thetan perdeu anteriormente são recuperadas à medida que a pessoa avança pelos níveis de OT, até que por fim o thetan alcança um estádio de total consciência, memória e capacidade como um espírito independente da carne, livre do ciclo interminável do nascimento e da morte ( O que É Scientology?, p.247). Esta condição tem algumas semelhanças com aquilo a que os budistas chamam nirvana.

Ora, o caminho usado pelos Scientologists para progredir sistematicamente em direção ao mais alto nível de consciência — Liberdade Total — é designado por Ponte. Várias publicações de Scientology contêm uma carta que especifica a sequência de passos que a pessoa deve seguir para alcançar esse objetivo, e também as características de consciência associadas a cada um desses estádios. Os Scientologists afirmam que a experiência deles confirma a eficácia desta rota traçada por L. Ron Hubbard, e que Scientology é o culminar de uma tradição religiosa que se estende para trás pelo menos dez mil anos através das escrituras budista, hindu e védica, bem como de partes dos ensinamentos celtas, gregos e dos primeiros cristãos (As Conferências de Phoenix, Capítulos 1 a 3, O Manual de Scientology, p. lxxxix).

III.V. A Dimensão Ética

Scientology também ensina que o progresso ao longo da Ponte requer e permite a consecução de altos padrões morais e éticos. Assim, na sua Introdução à Ética de Scientology, Hubbard afirmou (p. 5) que um avanço importante em Scientology foi o desenvolvimento da «tecnologia básica de Ética».

Hubbard usou o termo «moral» para se referir a um código de boa conduta acordado coletivamente (p.25), considerando que ele definiu ética como «as ações que o indivíduo aplica a si mesmo a fim de alcançar uma sobrevivência ótima para si e para os outros, em todas as dinâmicas» (p.19). Hubbard enfatizou a racionalidade de comportamento ético: «Ética, na verdade, consiste em racionalidade em direção ao nível de sobrevivência mais alto» (p.18) «Se um código moral fosse inteiramente razoável, ele poderia, ao mesmo tempo, ser considerado inteiramente ético. Mas só neste nível mais alto se poderia dizer que os dois são iguais» (p.25).

Ora, à medida que evoluiu, Scientology desenvolveu uma série de códigos de comportamento aplicáveis a situações específicas. Um é o Código do Auditor, uma série de compromissos que o auditor deve cumprir para manter padrões profissionais. Outro é o Código do Supervisor, que define os princípios da conduta exigida a pessoas que fazem supervisão dentro da Igreja de Scientology. Há ainda o Código de Honra, que é uma série mais geral de máximas aplicáveis às relações humanas. Além destes, há o Código de um Scientologist, que fornece diretrizes de comportamento orientado para a defesa dos direitos humanos e a difusão de Scientology em todo o mundo ( O que É Scientology?, pp.730–737).

Scientology possui terminologia própria para referir um comportamento que é prejudicial ou que transgride o código moral com que a pessoa concordou. Tal comportamento é denominado um overt. Um overt que a pessoa esconde ou nega é chamado uma ocultação. No processo de audição, é dada atenção, inter alia, a overts e ocultações que o PC precisa de resolver.

Num nível mais geral, Scientology concebe a bondade em termos de «ação construtiva de sobrevivência» (Introdução à Ética de Scientology, p.21). Como construção também pode implicar um grau de destruição, a construção deve superar a destruição para que algo seja considerado bom. Inversamente, qualquer coisa que seja mais destrutiva do que construtiva é, por definição, má.

Com estas definições em mente, Scientology especifica um meio pelo qual o indivíduo pode elevar progressivamente o seu nível ético e assim aumentar a sua sobrevivência ao longo de cada uma das oito dinâmicas. A «tecnologia de ética» especifica doze «estados éticos» ou condições e proporciona passos precisos ou fórmulas pelos quais a pessoa pode mover-se de uma condição para outra mais elevada. No nível mais baixo, existe uma condição de confusão, onde só há desordem e não há nada produtivo. No nível mais alto, existe uma condição de poder, onde pouco ou nada pode fazer perigar a sobrevivência. Entre estes dois extremos há várias outras condições dispostas em sequência: traição, inimigo, dúvida, risco, não-existência, perigo, emergência, operação normal, afluência e mudança de poder (Introdução à Ética de Scientology, Caps. 3 e 4).

Embora os Scientologists usem o termo «ética» com algumas conotações diferentes das que predominam no discurso filosófico ocidental, é evidente que uma dimensão ética é uma parte fundamental de Scientology. Também relevante sob este título é o livro O Caminho para a Felicidade escrito por L. Ron Hubbard como um «código moral não religioso baseado unicamente no senso comum». Embora não se destinem unicamente a Scientologists, os vinte e um preceitos enunciados neste livro são aceites pelos Scientologists como parte do seu código moral. Proibidas são coisas como promiscuidade, assassínio, roubo, atos ilegais e prejudicar uma pessoa de boa vontade. Obrigatórias são coisas como cuidar de si próprio, ser sóbrio, amar e ajudar as crianças, respeitar os pais, dar bom exemplo, ser honesto, apoiar um governo concebido e gerido para todo o povo, salvaguardar e melhorar o ambiente, ser digno de confiança, cumprir as suas obrigações, ser diligente, desenvolver competência, respeitar as crenças religiosas dos outros, tentar não fazer aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem a si, tentar positivamente tratar os outros como gostaria que eles o tratassem a si, e alcançar sucesso.

Como expressões práticas de princípios morais como estes, agências estabelecidas pela Igreja de Scientology têm estado ativas em campanhas antidroga, na reabilitação de toxicodependentes e criminosos, em erradicar a iliteracia e remediar a desvantagem educativa, em melhorar o ambiente, em prestar socorro em casos de desastre e em defender os direitos humanos.

III.VI. A Dimensão Social e Institucional

A estrutura eclesiástica da Igreja de Scientology está organizada num padrão hierárquico que corresponde a níveis definidos na Ponte para a Liberdade Total. No nível mais baixo desta hierarquia estão os auditores de campo e os Grupos de Aconselhamento de Dianética. Quer independentes quer como parte de um Grupo de Aconselhamento de Dianética, os auditores de campo podem entregar audição e serviços introdutórios até ao nível permitido pelo seu treino e autorização. Desta maneira, as pessoas que entram em Scientology por esta via podem continuar a avançar na Ponte, sendo depois encaminhadas para uma organização Classe V de Scientology designada para obterem mais audição e treino.

As missões de Scientology constituem um segundo patamar na estrutura eclesiástica. Estas missões muitas vezes estão localizada em partes do mundo onde Scientology ainda não está bem estabelecida. Elas oferecem serviços introdutórios de Dianética e Scientology. Como não dispõem de estatuto completo de igreja, estas missões não podem treinar nem ordenar ministros de Scientology. Espera-se no entanto que, à medida que crescem e adquirem liderança qualificada com treino mais elevado, as missões acabem por se tornar verdadeiras igrejas de Scientology (organizações de Classe V).

As organizações de Classe V constituem o terceiro patamar na estrutura. Estas estão autorizadas a oferecer audição e treino até ao nível de Clear. Supervisionam as atividades dos auditores de campo e missões e fornecem treino básico para ministros, e também são centros de outros tipos de ritual e serviço comunitário mencionados sob títulos precedentes. As organizações de Classe V fornecem o básico dos ministérios diários oferecidos pela Igreja de Scientology.

Em quatro centros principais em todo o mundo há igrejas de nível mais alto que oferecem audição de Scientology e serviços de treino mais avançados. As pessoas que participam nestes programas fazem isso tipicamente numa base intensiva a tempo inteiro, muitas vezes na expectativa de continuar a servir como ministros dentro da Igreja de Scientology depois de voltarem para as igrejas de Scientology locais de onde vieram.

Num nível ainda mais alto está a Organização de Serviços de Flag, localizada em Clearwater, Florida. Este retiro religioso fornece, em várias línguas, audição avançada e os níveis mais altos do treino de auditor.

Os níveis mais altos de audição de Scientology são ministrados no Freewinds, um navio fundeado nas Caraíbas. Este navio, que é a sede da Organização de Serviços do Navio de Flag da Igreja de Scientology, também dispõe de um local para convenções, seminários e cursos especializados frequentados por Scientologists de várias partes do mundo.

A administração das operações mundiais da Igreja de Scientology está confiada a corpos eclesiásticos localizados em Los Angeles. O Diretor Executivo Internacional é assistido por onze funcionários executivos superiores, cada um dos quais supervisiona uma atividade ou função específica da Igreja. A estrutura burocrática da Igreja de Scientology Internacional tem certas semelhanças com a Igreja Católica Romana, apesar de as tarefas dos vários funcionários dentro da Igreja de Scientology Internacional serem específicas de Scientology, refletindo as teorias organizacionais e administrativas propostas por L. Ron Hubbard.

A Igreja de Scientology dá ênfase especial a assegurar que os procedimentos usados em audição e treino sejam exatamente como Hubbard especificou. Fala-se dos seus textos sobre Scientology como as escrituras. Estes textos desempenham assim uma função análoga à desempenhada pelos textos sagrados em várias outras religiões. O árbitro final da ortodoxia e ortopraxia em Scientology é o Religious Technology Center, estabelecido por Hubbard para este fim.

Em conformidade com a crença de que são seres espirituais imortais, alguns membros da Igreja de Scientology assinam promessas solenes de serviço eterno a Scientology e aos seus objetivos. Estas pessoas são membros de uma ordem religiosa conhecida como a Organização do Mar. Usam uniformes distintivos e geralmente vivem em comunidade. Também aqui há semelhanças óbvias com ordens religiosas nalgumas outras religiões.

III.VII. A Dimensão Material

Como as mesquitas no islão, as igrejas no cristianismo e os templos no budismo, hinduísmo e judaísmo, as igrejas de Scientology são tipicamente distinguidas por símbolos religiosos específicos, mais notavelmente por dois triângulos sobrepostos interligados com a letra S, que representa Scientology. Os dois triângulos simbolizam elementos fundamentais nas doutrinas de Scientology. Os vértices de um triângulo representam Afinidade, Realidade e Comunicação que, de acordo com o ensinamento de Hubbard, em conjunto produzem compreensão. Os vértices do outro triângulo representam Conhecimento, Responsabilidade e Controlo, que são considerados necessários em todas as áreas da vida da pessoa.

Outro símbolo comum de Scientology é uma cruz radiante, semelhante à cruz que se encontra no cristianismo mas com quatro pontos adicionais vindos do centro. Os oito pontos da cruz de Scientology representam as oito dinâmicas listadas acima. Esta cruz é geralmente usada pelos ministros da Igreja de Scientology.

Outros símbolos oficiais representam Dianética, membro da Organização do Mar, consecução do estado de Thetan Operante, e filiação da Divisão 6 (Divisão Pública da Igreja de Scientology). O uso destes e outros símbolos registados é regulado escrupulosamente pelo Religious Technology Center.

Outra parte da dimensão material de Scientology é o E-Metro, que é descrito nas publicações de Scientology como um «artefacto religioso usado no confessionário da Igreja». O E-Metro é um aparelho essencial em audição, que por sua vez é uma atividade fundamental em Scientology.

Também parte da dimensão material de Scientology são as suas muitas publicações, que vão desde best-sellers tais como Dianetics até muitos volumes da Série de Pesquisa e Descoberta, de Compreender o E-Metro até Os Antecedentes e Cerimónias da Igreja de Scientology, de O Caminho para a Felicidade até quase 3000 conferências gravadas de L. Ron Hubbard. Como já foi mencionado, as publicações religiosas de Hubbard constituem as Escrituras de Scientology. A disseminação destas publicações é vista pela Igreja de Scientology como um meio para alcançar a meta última de Hubbard de levar todo o planeta para um estado de Clear.

IV. Conclusão
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